Estudo mostra os benefícios socioeconômicos e ambientais do planejamento integrado da paisagem que concilia produção agrícola, conservação e restauração; além de reverter a degradação, processo aumenta a resiliência climática, assegura a presença de polinizadores – incrementando a produtividade agrícola nacional em até 90% –, e ainda fornece produtos madeireiros, frutos e bioativos florestais que diversificam o mercado e geram renda aos proprietários rurais Rio de Janeiro, 23 de agosto de 2019 – A Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e o Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS) lançam hoje o sumário para tomadores de decisão do relatório temático “Restauração de Paisagens e Ecossistemas”. Elaborado por 45 pesquisadores de 25 instituições, incluindo o CSRio, o estudo reúne o conhecimento científico sobre iniciativas, práticas e políticas públicas que visam o uso mais sustentável do solo no Brasil, contribuindo diretamente para a mitigação das mudanças climáticas e o alcance de metas globais. O objetivo é informar governantes, empresários e demais gestores e lideranças, das esferas pública e privada, sobre o melhor caminho a ser seguido. Diante da crescente alteração de ambientes naturais por atividades humanas, a restauração de paisagens e ecossistemas tem se tornado prioritária em âmbito internacional. Tanto é que a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o período entre 2021 e 2030 como a Década sobre Restauração de Ecossistemas. E, em meio a uma conjuntura crítica para a agenda ambiental brasileira, o documento da BPBES e do IIS apresenta dados e propostas para demonstrar o benefício mútuo entre produção agrícola, conservação e restauração. O estudo está sendo lançado em um momento oportuno: duas semanas após o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, ter divulgado um relatório especial que aborda as relações entre o uso da terra e as mudanças do clima, alertando para a importância de se combater o desmatamento, proteger os ecossistemas naturais e promover a recuperação da vegetação nativa. O Brasil perdeu 70 milhões de hectares de vegetação nativa nos últimos 30 anos. Em sua maior parte, são terras abandonadas, mal utilizadas, em processo de erosão e que pouco agregam ao país. “Essas áreas não contribuem para a produção de alimentos, para qualquer outra atividade econômica e nem para os serviços ecossistêmicos. Sua restauração deveria ser uma prioridade nacional!”, pontua Bráulio Dias, professor da UnB e ex-secretário executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU. O estudo observa que cada bioma e seu respectivo nível de degradação requerem métodos específicos de restauração ecológica para garantir melhor relação custo-eficiência, e detalha as técnicas mais indicadas para cada área, incluindo a condução da regeneração natural. Sinergia e interdependência – Segundo o documento, a restauração de paisagens e ecossistemas não compete com atividades agrícolas; ao contrário, são ações sinérgicas. O coordenador do relatório, Renato Crouzeilles, professor do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRJ e do Centro de Ciências da Conservação e Sustentabilidade do Rio (CSRio) na PUC-Rio e associado ao IIS, salienta que ciência e política andam juntas e se beneficiam. “O planejamento inteligente e o manejo integrado da paisagem levam a uma situação de ganha-ganha, onde ganha o meio ambiente, ganha a produção agrícola e ganha a sociedade”, explica. Na mesma linha, Ricardo Rodrigues, professor da Esalq/USP, onde coordena o Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (Lerf), e também um dos coordenadores do estudo, argumenta que agricultura e meio ambiente não são concorrentes e, sim, interdependentes. Por isso, devem ser abordados de forma conjunta, sob a ótica da ‘adequação ambiental e agrícola de propriedades rurais’, conceito que pratica há mais de 20 anos no Lerf, obtendo como resultado benefícios ambientais e produtivos. Para tanto, ele defende que o conhecimento científico precisa se aproximar da sociedade e a sociedade deve se apropriar melhor desse conhecimento. “Temos que quebrar essa barreira. Não podemos continuar gerando conhecimento de qualidade para nós mesmos, discutindo entre pares. Acredito que esse estudo é um instrumento interessante para essa aproximação”. Para Rodrigues, o diferencial da agricultura brasileira deveria ser a tecnologia de ponta, a alta produtividade e o baixo impacto ambiental, em um ambiente rico em biodiversidade e, portanto, com sustentabilidade ambiental e socioeconômica. Para que isso aconteça, na opinião de Crouzeilles é fundamental a conscientização do governo sobre a sinergia entre meio ambiente e agricultura, que pode levar à melhor qualidade ambiental, econômica e social, vitais para o enfrentamento das mudanças climáticas. “Restauração é a solução baseada na natureza com maior potencial de mitigar os efeitos das mudanças climáticas, os quais, se não forem combatidos agora e com intensidade, levarão à perda de produtividade agrícola, à maior inequidade social e econômica e à destruição dos recursos naturais”, avalia. Bernardo Strassburg, professor da PUC-Rio, diretor executivo do IIS, coordenador do CSRio também coordenador do documento, ressalta ainda o enorme potencial da restauração ecológica para contribuir para o atingimento de múltiplos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, de forma custo-efetiva. “Além dos Objetivos relacionados à conservação da biodiversidade e mitigação e adaptação às mudanças climáticas, a restauração pode apoiar significativamente os objetivos associados às seguranças alimentar, hídrica e energética, à redução da pobreza, geração de empregos e produção e consumo sustentáveis”. De acordo com o relatório, a restauração de paisagens e ecossistemas assegura a presença de polinizadores, que aumentam a produtividade das culturas agrícolas brasileiras em até 90%. “Cerca de 40% das culturas agrícolas do país têm redução de produção de 40-100% na ausência de polinizadores e, em outros 45% das culturas, a diminuição está entre 1-40%”, diz o texto. Ainda segundo o estudo, se bem planejada e implementada na paisagem, a restauração pode aumentar em mais de 200% a conservação da biodiversidade. Benefícios socioeconômicos – Além de reverter a degradação ambiental, devolvendo a funcionalidade dos ecossistemas, a recuperação da vegetação nativa também enseja oportunidades econômicas, de inclusão e redução das desigualdades sociais. “Estima-se a criação de 200 empregos diretos (por meio de coleta de sementes, produção de mudas, plantio e manutenção) a cada 1.000 hectares em restauração com intervenção humana. Dependendo do balanço entre recuperação com alta intervenção humana e condução da regeneração natural, projeta-se que entre 112
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